Divórcio de conto de fadas não existe

Vivemos tempos perigosos. Tempos em que uma tragédia familiar é travestida de conquista, onde a dissolução de um lar é embalada em legendas bonitas, trilhas sonoras emocionadas e declarações sobre amor próprio e felicidade. Tempos em que o fracasso é aplaudido desde que venha com filtros e um bom texto de despedida. Mas a verdade, aquela que ninguém mais parece querer dizer em voz alta, é que o divórcio é um fracasso, e precisa parar de ser romantizado.

Se amamos de fato a nossa família, se queremos o bem do outro, se um dia olhamos alguém no altar e juramos fidelidade, o caminho natural e honesto é lutar. Lutar contra o próprio egoísmo, contra as pequenas incompatibilidades — e aqui vale lembrar: todo casamento é, por definição, incompatível. Homem e mulher, com suas naturezas distintas, seus temperamentos, suas histórias e suas feridas, jamais serão perfeitamente compatíveis. O casamento não é para os compatíveis, é para os que decidem permanecer quando a incompatibilidade grita.

A cultura do amor líquido, como bem diagnosticou Bauman, nos ensinou a descartar tudo o que incomoda. A menor contrariedade vira motivo de afastamento, e qualquer desconforto precisa ser imediatamente eliminado. Tornamo-nos uma geração incapaz de permanecer, de perdoar, de atravessar as crises com coragem. Trocamos conversas por bloqueios, divergências por cancelamentos, e votos por justificativas vazias de “mereço ser feliz”.

Mas será que essa busca incessante por liberdade e satisfação imediata está, de fato, nos tornando mais felizes? Ou será que estamos apenas mais sozinhos, vazios, imaturos e incapazes de sustentar vínculos verdadeiros? Liberdade sem responsabilidade é abandono, e os lares desfeitos deixam marcas profundas, em pais, filhos e em toda a sociedade.

É estarrecedora a capacidade que nossa geração desenvolveu de transformar uma tragédia em espetáculo festivo. Celebridades, influenciadores, pessoas públicas — ao anunciarem separações — frequentemente escolhem fazer posts “civilizados”, cor de rosa, tentando dar um tom poético ao desmantelamento de algo que, um dia, foi altar. Fazem isso talvez para preservar a própria imagem, mas se esquecem da responsabilidade moral que carregam ao influenciar milhares de pessoas.

Não se trata aqui de condenar, nem de desejar o mal. A vida não termina no divórcio. Deus é misericordioso. Mas a honestidade exige que se chame tragédia de tragédia. Divórcio é sempre motivo de lamento. É o fim de um lar, a quebra de um voto, a mutilação de um corpo nupcial que deveria espelhar a luz divina. Quando isso se rompe, não há glamour — só dor.

E talvez o maior desserviço dessa cultura de separações “maduras e conscientes” seja o exemplo que deixam para as famílias em crise. Porque na ânsia de não parecerem derrotados, preferem exibir força e felicidade pós-divórcio, como se o desmonte de um lar pudesse ser sinônimo de evolução. Não é.

Meu casamento não é perfeito. Nenhum é. Vivemos desafios, lutas diárias e momentos de esgotamento. Mas é justamente por isso que decidimos permanecer. Porque morrer um pouco do nosso egoísmo a cada dia, abrir mão de certas razões e cultivar humildade, é o único caminho possível para experimentar a abundância de um lar sólido e verdadeiro.

Fica aqui, então, um apelo à maturidade. Ao reconhecimento humilde de que divórcio não é conto de fadas. Que não há separação bonita, e que todas as tentativas de dourar essa pílula são só mais um sintoma da nossa dificuldade de lidar com frustração e dor.

Deus tenha misericórdia de nossa geração, e que Ele encontre espaço para curar aqueles que se reconhecem feridos — porque, como mostram os Evangelhos, Deus só cura quem sabe que está doente.

Se você está lendo isso e passando por crises no casamento, resista à tentação fácil da fuga. Converse. Peça ajuda. Reconheça suas falhas. E lute. Porque enquanto houver luta, ainda há esperança.