A forma como enxergamos a sexualidade e a afetividade não surge no vácuo. Nosso imaginário foi construído ao longo das décadas por influências familiares, culturais e midiáticas. Se hoje muitas mulheres vivem a sexualidade como um campo de frustração, culpa ou simples mecanicismo, é porque algo foi deturpado na raiz de sua formação.
O imaginário sexualizado das décadas passadas
Nas décadas de 1980 e 1990, a cultura de massa impulsionou uma visão hipersexualizada do corpo e das relações. A televisão, através de programas de auditório e novelas, reforçou a ideia de que a sedução e a performance eram essenciais para a identidade feminina. As letras de músicas populares traziam insinuações sexuais camufladas como entretenimento, e a educação sexual, quando presente, era de cunho estritamente biológico, ignorando o sentido transcendente do amor e do dom de si.
Nessa mesma época, a família, que deveria ser o primeiro espaço de formação, estava imersa na transformação dos valores. Muitos pais, criados sob regras mais rígidas, sentiam-se despreparados para educar os filhos sobre sexualidade e amor. Como resultado, a lacuna foi preenchida pela cultura dominante, que promovia um modelo fragmentado de afetividade, pautado mais na satisfação dos desejos do que na construção de um amor verdadeiro.
O resultado nos casamentos de hoje
Como apontam autores como Zygmunt Bauman, na sua obra “Amor Líquido”, passamos a viver relações fluídas, onde o outro se torna descartável assim que deixa de fornecer satisfação. Roger Scruton, em “As Vantagens do Pessimismo”, destaca como a perda de referências morais só agravou a crise da sexualidade, reduzindo o amor a um mero jogo de interesses e prazer instantâneo.
O reflexo disso é sentido nos casamentos de hoje. Muitas mulheres se casaram com um imaginário romântico baseado em filmes e novelas, onde a paixão e o desejo são constantes. Quando a realidade conjugal exige sacrifício, renúncia e construção conjunta, muitas se veem frustradas, acreditando que algo está errado com seu casamento ou com sua própria feminilidade.
O impacto na vida íntima é visível: a falta de desejo, a desconexão emocional e a insatisfação são sinais de uma sexualidade que foi ensinada de maneira fragmentada. O sexo, que deveria ser a expressão plena da entrega e do amor, tornou-se apenas uma função a ser cumprida ou evitada.
Um caminho para a redenção do imaginário
A boa notícia é que é possível fazer uma “limpeza de imaginário” e reconstruir uma visão mais sã da sexualidade e da afetividade. Para isso, é preciso seguir alguns passos:
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Revisitar as Bases – A “Teologia do Corpo”, de São João Paulo II, oferece uma perspectiva renovada sobre o sentido do corpo e da sexualidade. Nela, aprendemos que o sexo não é um mero ato físico, mas a expressão de um amor que se entrega por inteiro.
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Identificar e Substituir as Falsas Crenças – Muitas mulheres carregam a ideia de que sexo é “coisa de homem”, ou que é uma obrigação dentro do casamento. Ler obras como “Amor Humano e Sexualidade”, do Dr. Filipe Duarte, pode ajudar a desconstruir essa mentalidade e trazer uma nova compreensão sobre o papel da mulher na vida sexual do casal.
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Purificar o Coração e a Mente – O bispo Fulton Sheen, em “Três Para Casar”, nos ensina que a vida conjugal deve ter Deus como centro. Isso significa que a sexualidade também precisa ser vivida dentro de um propósito maior, onde o amor é sempre maior que o desejo.
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Resgatar a Intimidade no Casamento – Em vez de buscar referências no que a mídia vende como “sexo bom”, é essencial que o casal desenvolva uma sexualidade própria, baseada no respeito, na comunicação e no verdadeiro conhecimento do outro.
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Educar a Próxima Geração – Para que não repitamos os erros do passado, é essencial que eduquemos nossos filhos com uma visão equilibrada da sexualidade. Isso envolve tanto a transmissão de valores sólidos quanto a orientação prática sobre a dignidade do corpo e do amor.
Conclusão
A formação do nosso imaginário não foi neutra. Fomos influenciadas por uma sociedade que nos ensinou uma sexualidade deturpada e individualista. Mas é possível ressignificar essa história e reconstruir uma vivência sexual que seja fonte de união, prazer e espiritualidade dentro do casamento. A transformação começa quando decidimos limpar o imaginário e buscar a verdade sobre o amor e a sexualidade à luz de uma antropologia integral, que respeita nossa natureza e nosso chamado ao dom sincero de si.