Semana passada, assisti a um filme de forma despretensiosa. Não estava com a intenção de refletir sobre nada muito profundo, sabe aquele momento em que só queremos relaxar? Esse era meu objetivo. Portanto, não espere aqui uma análise cinematográfica elaborada — até porque o filme, do ponto de vista intelectual, é bem leve.
O título é Combinação Perfeita. Não se preocupe, não darei spoilers (mas, aviso: se você gosta de vinhos, prepare-se para ficar com água na boca!).
Quero destacar um momento dos minutos finais da trama. A personagem principal, Lola, passa uma temporada “na roça”. Com sua determinação e feminilidade, ela conquista o coração de um homem, ao ponto de ele revelar um segredo e transformar completamente sua trajetória pessoal e profissional.
Uma frase dita por Audra, amiga de Lola, ficou gravada em mim:
“Você vê o melhor nas pessoas, Lola. Mesmo quando elas não merecem. Quando você acredita nelas, faz com que queiram melhorar.”
Passei um bom tempo refletindo sobre essa fala, conectando-a à vida, ao setting terapêutico e às histórias de amor que ouço no meu dia a dia na clínica.
Perguntei-me: “Por que deixamos de acreditar nas potencialidades do casamento e das pessoas com quem dividimos a vida?”
E logo em seguida, veio a resposta: “Porque tratamos o amor como algo utilitário, como uma mercadoria.”
No casamento, quando passamos a enxergar o relacionamento apenas como troca, perdemos a essência do amor verdadeiro, que é doação e crescimento mútuo.
Restauração começa com um olhar de fé
Quando olho para minhas filhas e tudo que estamos fazendo pela educação delas, imagino que, no futuro, elas colherão os frutos do que estamos plantando agora. Nós as amamos, damos suporte afetivo e emocional, e, aos poucos, as educamos na fé e nas virtudes. Aqui em casa, não nos preocupamos apenas com uma “educação de qualidade” no sentido acadêmico que muitas escolas promovem. Nosso objetivo é educá-las para o céu. Isso não significa que negligenciamos um bom currículo; pelo contrário, prezamos por uma educação clássica que as insere desde cedo nas ciências, línguas, literatura e artes.
Por nossas filhas, somos capazes de mover montanhas, porque olhamos para elas com esperança e fé. Então me pergunto: Em que momento deixamos de fazer isso pelos nossos cônjuges?
Se eu pudesse resumir meu trabalho, diria que é ajudar minhas pacientes a enxergarem as potencialidades de seus maridos e de seus casamentos. Mostrar que, por menor que seja, sempre há um esforço ali, um desejo de melhorar.
A restauração de um casamento muitas vezes começa com um pequeno gesto de confiança. É quando decidimos apostar no outro e enxergar além das falhas ou limitações.
Enxergar além do superficial
Vejo tantos memes nas redes sociais — por exemplo, aquele do “Comprei na planta”, mostrando fotos engraçadas do cônjuge no passado, simples, e no presente, mais “polido”. Apesar do tom cômico, isso reflete o quanto nos concentramos no superficial. Será que quem faz piada assim também estaria disposta a “comprar na planta” um homem que tem dificuldades em se comunicar ou que ainda não prosperou financeiramente?
Enxergar as potencialidades humanas é ir além do que os olhos veem. É perceber, por exemplo, o esforço de um homem que tenta se comunicar melhor, mesmo que ainda não saiba como. Ou reconhecer o trabalho árduo de alguém que luta para sustentar sua família, mesmo sem conhecer outros caminhos.
Apostar nas potências do outro é incentivá-lo a conquistar as virtudes que podem levá-lo ao próximo passo. Assim como Lola fez com Max no filme: ela o ajudou, mesmo sem intenção, a ordenar sua vida, a honrar a história familiar e a buscar a magnanimidade. Ao apostar nele, ela também cresceu como pessoa.
O segredo para reconstruir um casamento
Restauração no casamento exige olhar para o outro com esperança e fé. É sobre enxergar o esforço, mesmo que ele ainda não seja perfeito. Apostar nas potencialidades do seu cônjuge pode ser o primeiro passo para transformar um relacionamento desgastado em uma união fortalecida.
Deixo aqui uma dica leve de filme para um momento de descanso, mas também uma pergunta para reflexão:
Você tem enxergado as potências do seu marido?
Com carinho,
Queli