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Eu só pude ter uma Barbie aos 10 anos de idade. Antes disso, eu brincava com as bonecas das minhas amiguinhas. Sempre foi um universo mágico e, ao mesmo tempo, distante para mim. Mas desde pequena, eu sempre observei uma coisa: eu nunca quis ter um Ken! Eu queria uma coleção de Barbies, mas um Ken não servia para nada. Não era possível enfeitá-lo de nada, pentear seu cabelo e nem fazer desfile com os looks. Ele não servia para nada!

Hoje, adulta, não me recordava dessa época, e isso só veio à tona por causa do filme que acabou de estrear. Como tenho estudado muito sobre a influência das mídias no casamento e nas relações afetivas, na construção do nosso imaginário, compreender essa “histeria coletiva” seria primordial para o meu trabalho.

E olha que interessante: desde sua origem, na década de 50, no auge do movimento feminista pelo mundo, Barbie foi um símbolo de “emancipação” da mulher, onde ela deixava de ser mãe e dona de casa (a mulher desde sempre trabalhou fora, basta você falar com sua avó que às 5h da manhã acordava para ir à roça antes do sol nascer) e poderia ser “o que quiser”.

Barbie é uma personagem de símbolo misto. É uma tentativa de extinguir a mulher “tradicional” que cuida do lar e dos filhos, levando-a para fora desse universo “sem valor e monótono”, para um universo mágico da vaidade, riqueza, beleza e sucesso.

A influência “perfeita” para levar ao que temos hoje na sociedade.

Para que uma mulher empoderada como Barbie precisaria de um homem como o Ken? Não é mesmo?! Foi exatamente isso que retrataram no filme que acabou de ser lançado. Ken como um boneco emasculado, afeminado, totalmente distante de tudo que representa um homem comum. Ken não oferece riscos ao feminino, por isso esse “sucesso” entre as meninas; ele é apenas um figurante, alguém inferior à Barbie, alguém inferior ao feminino.

E essa foi apenas mais uma forma de ensinar as meninas que elas não precisam de homens para nada, que o masculino não precisa existir e que a mulher é totalmente suficiente.

Claro que essa não foi a única influência. Os filmes de comédia romântica também fizeram um “leve estrago” em seu imaginário, infantilizando as relações entre um homem e uma mulher e reduzindo-as como se fossem apenas sexo e um homem que mais se comporta como sua melhor amiga.

Ei, mas calma. Você é adulta agora e, à medida que toma consciência de tudo isso, pode separar o joio do trigo e aproveitar o que é bom.

Eu continuo apaixonada pelo universo da Barbie, embora não tenha a mínima vontade de assistir ao filme. Rafinha, se desejar, terá uma Barbie, e brincaremos juntas de pentear, trocar as roupinhas e fazer desfiles, como eu fazia quando criança. Ela também foi uma influência positiva no que diz respeito à feminilidade, estética, beleza, ternura e elegância. Foi através do universo da Barbie que comecei a apreciar a beleza, a identificar o que era belo e o que era feio, e inclusive a me cuidar melhor. Não tive uma mãe vaidosa, que me ensinou a me maquiar ou a fazer penteados no cabelo. Eu queria fazer tudo isso por causa da Barbie, queria ser bela como ela, e essa imagem está presente até hoje aqui comigo.

Mulher, agora você é adulta, descobriu que não pode ser o que quiser, que sucesso e ascensão social se conquistam com muito trabalho, postura e em seu lugar de força, que os homens não são uns babacas e que precisamos deles assim como eles precisam de nós, que toda uma sociedade batalhou muito para chegar onde chegamos e que aqui homens e mulheres têm igual valor e cada um tem um papel importante para todos.

Curta seu filme, curta a nostalgia de forma saudável e sem sentimentalismo, para de problematizar as coisas, foca na sua relação com Deus, com sua família, na sua carreira e em você. E esteja de olhos abertos para tudo o que te afasta da realidade.

Com amor
Queli

 

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